Boletim G20 Ed. 258 - Transições Energéticas: caminhos para um mundo sustentável
Reportagem especial aborda como diferentes países enfrentam a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia limpas e renováveis, apresentando o cenário atual em Angola, Oriente Médio, Reino Unido e Noruega. Ouça e saiba mais.
Repórter: A poluição industrial, o setor de transportes, desmatamento, muitas são as fontes de emissão de gases na atmosfera, que elevam a temperatura da terra e causam mudanças climáticas em todo o planeta. Para diminuir as emissões é necessário mudar a matriz energética em vários países, e a questão das Transições Energéticas tem várias camadas. Primeiro, os países cada um com sua geografia tem diferentes recursos naturais, em um lugar tem muita água, ou minérios, carvão, em outro muito sol, petróleo ou ventos. Segundo, há nações ricas e pobres, e é preciso muito dinheiro para realizar uma mudança tão grande como é a troca de uma fonte de energia que alimenta um país inteiro por outra. Para o professor Joe Howe da University of Lincoln, na Inglaterra, os custos da transição ainda são altos, mas ele está otimista. O Reino Unido fechou sua última usina de carvão este ano, a primeira tinha sido construída em 1882.
Joe Howe: Os custos serão altos para começar, mas com o passar do tempo, conforme o mercado for se desenvolvendo, o custo vai cair. Deixe-me dar um exemplo disso, quando a energia eólica offshore começou no Reino Unido, era muito cara. E, agora, os custos são tão baratos quanto a energia gerada por petróleo e gás. Assim que tiver um mercado funcionando, com os produtos se desenvolvendo, consumidores querendo produtos verdes, serviços gerados com energia limpa, então o custo diminui e nos acostumamos a produzir coisas mais baratas.
Repórter: Em um país distante do Reino Unido, o financiamento é ainda uma questão mais urgente. A Angola, país convidado pela presidência brasileira do G20, tem por volta de 64% de matriz energética limpa. Cecília Silva Bernardo, Diretora Nacional para Ação Climática e Desenvolvimento Sustentável, do Ministério do Ambiente da Angola, acredita que é possível impulsionar mais ainda o setor em seu país.
Cecília Silva Bernardo: Angola tem trazido a visão de um país menos avançado, mas que está com uma visão de descarbonizar a sua economia. Está com uma visão de ter um desenvolvimento de baixo carbono conforme a nossa estratégia nacional, mas claramente se o apoio internacional vier e houver realmente os desembolsos que são prometidos, então nós podemos efetivamente alcançar níveis maiores.
Repórter: Não muito longe de Angola, está uma região importante para o funcionamento energético do mundo inteiro - o Oriente Médio. Alguns de seus países são grandes exportadores de petróleo. A Arábia Saudita e a Turquia são países-membros do G20, enquanto Egito e Emirados Árabes Unidos são países convidados. Karim Elgendy especialista em clima do Oriente Médio, e acadêmico sênior não residente no Middle East Institute, em Washington, nos Estados Unidos, explica que as nações certamente estão preocupadas com o ritmo e a escala da transição por razões compreensíveis.
Karim Elgendy: O principal receio, no momento, é a velocidade da própria diversificação econômica e da própria transição energética para outras fontes de energia. Porque se o mundo os deixar para trás, eles não se prepararam o suficiente. Muitos países no Oriente Médio e Norte da África veem uma vantagem na luz do sol que gera oportunidade para implementar projetos de energia sustentável em terras com níveis incríveis de radiação solar. Além disso, pode abrir portas para outras formas de industrialização e avançar em direção a uma nova economia. Tudo, claro, se as nações conseguirem obter a tecnologia necessária para acelerar a transição energética dentro de suas próprias fronteiras.
Repórter: No extremo norte da Europa, outro país produtor de petróleo repensa sua indústria também. O ministro de Energia da Noruega, Terje Aasland, conta que nos últimos 20 anos, o país vem se concentrando em como descarbonizar a indústria petrolífera. Inclusive, as empresas do ramo pagam altas taxas de impostos para que o valor criado com esse recurso retorne para a população.
Terje Aasland: Eu direi mais uma coisa que acho muito importante, quando você está falando sobre transições energéticas, nós temos que trazer as pessoas conosco para que possamos vencer. Só podemos fazer isso com apoio público, então temos que garantir que a mudança aconteça com os empregos sendo salvos para criar mais solidariedade em uma perspectiva global. Então, é muito importante ter as pessoas conosco.
Repórter: A Noruega também tem investido em captura e armazenamento de carbono. É um procedimento caro por isso é economicamente mais interessante onde há um mercado de carbono com altos preços como na Europa.