ONU: insegurança alimentar alcança níveis globais alarmantes e exige financiamento
Dados do relatório da FAO, agência das Nações Unidas sobre insegurança alimentar e nutrição, publicados hoje (24), revelam que, em comparação com 2023, persistência da fome e da subnutrição impulsiona urgência por ampliar mecanismos globais de financiamento. Uma das bandeiras da presidência brasileira do G20, a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, atuará neste sentido

Por Mara Karina Sousa-Silva/Site G20 Brasil
Uma a cada 11 pessoas no mundo e uma a cada cinco na África enfrentaram situação de fome em 2023. De acordo com informações do relatório anual da Organização das Nações Unidas, entre 713 e 757 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar naquele ano. Os dados revelam que a prevalência global da subnutrição permaneceu praticamente inalterada por três anos consecutivos, após aumento acentuado durante a pandemia da Covid-19.
Lançado nesta quarta-feira (24), durante evento de endosso dos países do G20 à criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (em inglês) revela que o mundo está longe de alcançar o ODS 2 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) até 2030. O objetivo prevê zerar os índices globais de fome e insegurança alimentar e está ameaçado pela falta de melhoria na segurança alimentar e o progresso desigual no acesso econômico a dietas saudáveis.
Em 2023, o levantamento estima que 28,9% da população global, aproximadamente 2,33 bilhões de pessoas, estavam moderada ou severamente inseguras em termos alimentares. O estudo foi elaborado pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura); o UNICEF (Fundo); o FIDA (Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola); PMA (Programa Mundial de Alimentos) e da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Lançado nesta quarta-feira (24), durante evento de endosso dos países do G20 à criação da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, o relatório Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (em inglês) revela que o mundo está longe de alcançar o ODS 2 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) até 2030. O objetivo prevê zerar os índices globais de fome e insegurança alimentar e está ameaçado pela falta de melhoria na segurança alimentar e o progresso desigual no acesso econômico a dietas saudáveis.
Desafios são mais profundos para os países do Sul Global. Os dados revelam que, em 2023, os países da América Latina e Caribe apresentaram progresso considerável na melhoria das condições de alimentação e segurança alimentar das populações. Por outro lado, a fome continua a crescer na África e permanece inalterada na Ásia.
O relatório registra ainda que, no que diz respeito ao cumprimento do ODS 2, houve algum progresso na erradicação de todas as formas de desnutrição como, por exemplo, na redução da ocorrência de nanismo e wasting entre crianças menores de cinco ano (perda excessiva de peso e massa muscular em decorrência da situação de insegurança alimentar), e na melhoria da amamentação exclusiva entre bebês menores de seis meses de idade no mundo. Todavia, o objetivo de garantir acesso regular a alimentos adequados para todos estagnou.
Recursos exclusivos são insuficientes
O relatório mapeou ainda que menos de um quarto dos fluxos de financiamento público para assistência de medidas para o desenvolvimento foram destinados à segurança alimentar e nutrição.
Entre 2017 a 2021, esses valores somaram 76 bilhões de dólares por ano, dos quais apenas 34% ajudaram a enfrentar os principais fatores da insegurança alimentar e da desnutrição. Esses recursos foram, predominantemente, para a África e países de renda média e baixa. “Os governos dos países de baixo rendimento parecem ter baixa capacidade de despesa para abordar os principais fatores de insegurança alimentar e desnutrição”, propõe o relatório da ONU.
Já o financiamento privado, incluindo ações de filantropia, investimentos internacionais em sistemas agroalimentares atingiu 95 bilhões de dólares por ano entre 2017 e 2022. Os financiamentos mistos (públicos e privados) representam valores modestos, enquanto os empréstimos bancários para agricultura, silvicultura e pesca apresentam um declínio nos anos analisados.
Financiamento contra à fome é urgente
Como alerta, o relatório indica que para atingir as metas do ODS 2 de acabar com a fome, insegurança alimentar e a desnutrição, é necessário aumentar e melhorar o financiamento de medidas e políticas públicas para esse fim. “Não existe atualmente uma imagem clara do financiamento para a segurança alimentar e nutricional – nem o disponível nem o adicional necessário – para atingir estas metas. São urgentemente necessários uma definição comum e um mapeamento do financiamento para a segurança alimentar e nutricional, uma vez que os esforços atuais carecem de atenção e clareza adequadas”, salienta o documento.
Por fim, o relatório define que o financiamento para a segurança alimentar e nutrição como os recursos financeiros públicos e privados, nacionais e estrangeiros, sejam imediatamente direcionados para erradicar a fome, a insegurança alimentar e todas as formas de desnutrição. “Para garantir a disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade de alimentos nutritivos e seguros e práticas que favoreçam dietas saudáveis, bem como a saúde, educação e a assistência social, e que incluam os recursos financeiros para reforçar a resiliência do setor agroalimentar”, conclui o estudo.